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Quando o assunto é choro, a tristeza é a primeira a ser citada. Mas todo ser que sente sabe que lágrimas rolando englobam outras emoções. Raiva, alegria, medo e saudade estão na lista de sentimentos que fazem algumas pessoas derramarem o líquido dos olhos. Para outras que não choram, o emotivo é taxado como imaturo, “bebezão”. Mas especialistas dizem que não é bem assim.
O choro é uma das primeiras formas de se comunicar. O bebê solta o berreiro quando deseja algo, mas não consegue usar palavras para isso. “Ao vermos alguém chorando, o desespero é imediato. Nosso cérebro foi programado a entender que tem sofrimento ali, por isso tenta resolver, dando mamadeira, peito, trocando fralda ou até levando ao médico”, diz Rita Calegari, psicóloga da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Desde criança, o ser humano aprende que o choro manifesta um sentimento de desconforto. Mas, segundo Calegari, é preciso ampliar o conceito para além do sofrimento. “As pessoas tendem a recriminar o choro no adulto porque, de fato, associamos a um comportamento infantil. Há essa associação à imaturidade, como se ao crescer não pudesse mais chorar, o que é uma grande bobagem”.
Após o indivíduo crescer, as lágrimas podem expressar contentamento, raiva, frustração, alívio. Elas dão vazão a uma tensão acumulada, uma expectativa ou preocupação. Quando a pessoa recebe uma notícia que quer e aquela expectativa finalmente acontece, a emoção vira choro.
Em uma briga, por exemplo, quem fica aos prantos em vez de rebater está acuado, inseguro. “Não quer dizer que aquela pessoa é fraca, imatura ou sensível demais”, diz Yuri Busin, psicólogo e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio).
Para Calegari, diferentemente da imaturidade esperada, chorar em público exige muita coragem, sem pensar no que os outros vão julgar”.
Quando chorar é um problema
Se emocionar-se com tudo não tem a ver com personalidade, em como o indivíduo se expõe aos medos e à insegurança em relação a conflitos, soltar o berreiro pode ser sinal de problemas.
“Chorar muito e incontrolavelmente pode ser um dos sintomas de diversas condições, como alteração hormonal, hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, depressão, ansiedade e hipoglicemia (quando o nível de glicose no sangue fica abaixo do normal)”, diz Priscila Gasparini, psicanalista com especialização em neuropsicologia e neuropsicanálise, com mestrado e doutorado pela USP (Universidade Federal de São Paulo), e que também atende no Hospital Beneficência Portuguesa.
Segundo ela, a falta de B12, por exemplo, prejudica as sinapses (local de contato entre os neurônios), causando danos na sensação, movimento, cognição e outras funções. Isso provoca formigamento nas mãos e pés, confusão mental e perda de memória.
O nutriente é encontrado em alimentos de origem animal, como peixes, carne vermelha e de fígado, e derivados do leite e ovos, por esse motivo sua deficiência geralmente é atribuída a pessoas veganas ou vegetarianas. Mas a falta da B12 também está ligada a outros fatores, como idade avançada ou distúrbios gastrointestinais.
O hipotireoidismo, condição na qual a glândula tireoide não produz a quantidade de hormônios, leva à redução de várias funções no organismo, levando inclusive a alterações no humor. De acordo com Natália Pavani, psicóloga do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, não é raro confundir o problema com a depressão. “Choro frequente, desânimo, fraqueza são sintomas de ambos, por isso é essencial fazer avaliação do histórico da pessoa e de alterações metabólicas biológicas para realizar o diagnóstico correto”.
Pavani afirma que não é difícil saber o limiar entre pessoas emotivas e quem está doente de fato. Assim como tem gente que dá risada mais facilmente que outras, tem quem chore com filmes, comerciais de margarina ou quando ganha presentes. “Não olhamos para isso como algo patológico porque é um traço de personalidade dela”, diz.
No entanto, quando o choro está associado a outros sintomas, ele deve ser observado com maior cautela. Se ele vier junto com um desânimo frequente, falta de vontade de se envolver em atividades que normalmente se envolvia, falta de vontade de sair de casa ou de prazeres, é melhor procurar ajuda.
A psicóloga salienta que estresse intenso e crises de ansiedade também podem estar por trás. O indivíduo pode ter chegado a um limite de sofrimento emocional e o choro frequente é sinal de estafa psíquica.
Quer saber o que é normal ou não? “Um bom sinal é fazer uma auto comparação. Pergunta-se ‘Como eu estava nos últimos meses ou anos?’ e ‘O que tem acontecido que estou chorando mais e meu comportamento mudou?’”, sugere Pavani.
Busin também diz que o ideal é sempre parar para pesar o quanto se emocionar está prejudicando no dia a dia. Independente da frequência que ocorrer, se incomodar, é melhor buscar ajuda psicológica ou médica.
Se não incomodar, pode chorar à vontade. “Precisamos conseguir comunicar de forma mais completa e complexa as emoções, seja com palavras ou choro. E um choro não precisa vir desacompanhado dessa externalização verbal, e sim como um complemento emocional”, diz Calegari.
Segundo ela, o choro é só uma resposta. Talvez tenha muito mais a ver com a forma de se comunicar do que sentir, o que tira de vez o estigma de “sensível demais” dos chorões.
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Nessa semana que se passou fui informado que uma leitora protestou a respeito do meu texto anterior: “TDAH não é uma doença. É um transtorno do neuro-desenvolvimento, de acordo com o DSM 5. Sugiro revisão para evitar mais estereótipos em torno desses transtornos”. Ao ser informado pelo UOL, solicitei a manutenção do temo doença, que coexiste com o termo transtorno nesse e em outros artigos, quase que como sinônimos.
Mas não por teimosia apenas, de modo que fiz outra postagem para explicar por que não alterei a postagem.
Antigamente, no mundo da psiquiatria, tudo era doença. Maníacos, melancólicos, alienados, todos esses eram tratados como doentes e, muitas vezes, segregados em instituições asilares. Algo bastante parecido com o que é descrito n’O Alienista, de Machado de Assis. Desenvolveu-se então no campo científico o que chamamos de psicopatologia, o estudo das doenças mentais, construindo um corpo teórico com o objetivo de tentar dar um sentido e talvez estabelecer possíveis causas para essas doenças.
Como a ciência neurobiológica nunca teve uma explicação convincente para formar um conceito de doença. Para tal, é necessário uma causa, causando uma disfunção conhecida, levando a determinados sintomas clínicos. Por exemplo, uma bactéria invade teu pulmão, causa uma reação inflamatória, levando a tosse, febre e secreção. A isso chamamos pneumonia. Nas doenças mentais nunca pudemos ter essa clareza. Apoiou-se então a psicopatologia em conceitos filosóficos, como a fenomenologia, ou psicológicos para construir sua teoria. As doenças seriam então decorrentes do ambiente, das relações parentais ou sociais.
O que ocorreu é que a psiquiatria fez um movimento dentro das ciências médicas com a intenção de se tornar mais científica, mais médica. Um marco importante foi o lançamento do DSM III, em 1980. O DSM é o manual diagnóstico e estatístico elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria, com diversas intenções. A principal talvez seja funcionar como um dicionário clínico, para se padronizar as doenças mentais. Ou seja, quando se fala depressão, por exemplo, nos referimos a uma situação com tais características pré-determinadas, e assim por diante. A partir do célebre DSM III o que se definiu foi que essas acepções teóricas psicopatológicas não eram adequadas ao funcionamento da psiquiatria como ciência médica e resolveu-se eliminá-la. Surge dessa época o conceito de “transtorno” como um certo equivalente de “doença”, não porque se quisesse de fato mudar o estigma que existia (e existe) sobre as doenças mentais. O fato é que o tal “transtorno” não precisava ser validade cientificamente como no caso das outras doenças. Era só preencher determinados critérios, descritivos, e já se conseguia fazer o diagnóstico. “Preenche critérios” se tornou a expressão de ordem da psiquiatria contemporânea. Mas e quanto às teorias que então propunham a origem e os mecanismos de instalação das doenças? Foram substituídos por uma palavra: “biológico”. Ou seja: deve ser biológico, embora a gente não saiba exatamente qual neurônio ou mesmo qual região do cérebro responda por essa função.
Por outro lado entendo que a expressão doença mental seja um pouco pesada e muitas vezes afaste as pessoas do tratamento e dos cuidados necessários ao invés de aproximá-las. É por isso que tento usar os dois termos, como sinônimos (apesar de não serem). Inclusive o próprio DSM usa, se você ler com atenção a palavra “doença” inúmeras vezes, logo em sua introdução, mostrando que o termo “transtorno” é muitas vezes insuficientes para dizer o que a gente quer dizer.
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